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quinta-feira, 15 de outubro de 2020

HOMENAGEM AO PROFESSOR: ARTIGO - "Professor, mais do que ponto e vírgula e travessão"- Prof. Me. André Rodrigues de Camargo


Cada vez que chega essa data, o Dia dos Professores, a comoção nacional é grande. Muitos dizem que o professor é fundamental para formação de todas as carreiras e que, por isso, devem ser mais respeitados. Muito embora, os mesmo que vociferam esse mote, desacreditam no trabalho dos professores quando concordam com projetos que cerceiam o direito a voz dos docentes, a exemplo disso, o famigerado do projeto de lei nº 867/2015, que recebe a alcunha de “Escola sem partido”.

O projeto estabelece normas que deverão ser expostas em sala de aula para que os estudantes possam se contrapor ao professor quando se sentirem assediados por questões ideológicas postas pelo professor. Dessa forma, ao ler Paulo Freire, percebemos a quão inócuo é esse projeto que fere questões extremamente importantes para a formação do cidadão: a produção do conhecimento por meio das contradições.

Segundo Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia (aliás, adianto aqui que esse livro é base desse pensar nesse singelo ensaio)

É não só interessante, mas profundamente importante que os estudantes percebam as diferenças de compreensão dos fatos, as posições às vezes antagônicas entre professores na apreciação dos problemas e no equacionamento de soluções. Mas é fundamental que percebam o respeito e a lealdade com que um professor analisa e critica as posturas dos outros. (...) Uma de nossas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: fazer tudo o que possamos em favor da eticidade, sem cair no moralismo hipócrita, ao gosto reconhecidamente farisaico.

Dissabores a parte, a carreira docente carece de mais respeito e isso se inicia nas condições econômicas e, por esse motivo, o professor, consciente da sua ação educadora, deve ser um só corpo e insistir na luta por uma ambiência mais condizente com o ofício que exerce. As lutas pela qualidade da escola pública, a manutenção das conquistas na carreira, a valorização do magistério, são fatores preponderantes para trabalhar nessa heterogenia culturalidade dos jovens.

O professor, consciente de seu papel na transformação dos seres que compõem a sociedade, enxerga que a ação pedagógica não pode ser “impermeável a mudanças”. Ela deve ser constantemente revisitada, analisada, e modificada, diante dos dilemas que se apresentam em nosso cotidiano. Basta ver como os docentes vem tentado, em meio a pandemia e ao isolamento social, se adaptar às tecnologias digitais de comunicação e informação, nas aulas online, além de ter de elaborar atividades para os estudantes desprovidos destes meios tecnológicos.

Freire, chama atenção para a ideologia fatalista que enclausura o sonho e a utopia, presentes na malvadez neoliberal ao dizer que a educação não se consolida apenas no ato

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[1] Mestre em Educação pelo Programa  de  Pós-Graduação em  Educação da  Universidade  Federal  de  São Carlos –campus Sorocaba. Docente de Língua Portuguesa e Língua Inglesa na EE “Maria Angerami Scalamandré”.  Atua também nas Escolas Técnicas (Etecs) de Piedade e Mairinque (SP).

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de formar para treinar o educando para uma determinada prova. Esse motivo é diminuto diante da necessidade educacional de nossos jovens. O interesse da educação vai muito mais além. Segue-se sim um caminho para a prática da liberdade, da autonomia e do protagonismo e da emancipação dos seres humanos.  

Outro autor muito importante para a prática educativa é Demerval Saviani, em seu livro “Escola e Democracia” descreve o processo histórico da educação em nosso país. Dentre as tendências da educação, segundo Saviani, a primeira procurava tirar o povo da marginalidade e via na educação uma forma de corrigir as distorções a fim de “reforçar os laços sociais”.  

A educação emerge aí, como um instrumento de correção dessas Ao pensar em nossa experiência escolar, deparamos com o conceito de educação bancária. Aquela que se realiza no meu mais completo silencio acreditando ser o professor o depositante de conhecimento em minha pacata e paciente atenção para a construção do saber. função reforçar os laços sociais, promover a coesão e garantir a integração de todos os indivíduos no corpo social. Sua função coincide, pois, no limite, com a superação do fenômeno da marginalidade

Como sociedade não esclarecida, caberia a educação um aspecto de formação moral, antidoto à ignorância. Estabelecendo conceitos de organização para transmissão de conhecimentos acumulados e sistematizados durante a história da humanidade, dando origem à educação bancária.

Ao pensar em nossa experiência escolar, deparamos com o conceito de educação bancária. Aquela que se realiza no mais completo silencio acreditando ser o professor o depositante de conhecimento em nossa pacata e paciente atenção para a construção do saber.

Então qual poderia ser o papel do professor para, junto dos estudantes, favorecer um espaço de construção de conhecimento coletivo que favoreça o protagonismo e a autonomia?

Esse modelo de educação, preocupada em formar estudantes críticos, participativos já é estabelecido no artigo 205 da Constituição Federal.

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Cabe então, a nós, professores educadores, estabelecermos espaços de, mais uma vez, autonomia, protagonismo e solidariedade dentro de nossa prática docente. Somente assim vamos transformar pessoas que transformarão o mundo. E, por meio da educação, uma grande revolução poderá acontecer em nosso país. Um vislumbre de uma sociedade que respeite o outro, que lute contra o machismo estrutural, o racismo estrutural, que respeite os LGBTQ+ e que haja empatia e compaixão.

Ainda bem que temos um dia para poder pensar nosso fazer docente e que toda a sociedade percebe o quanto somos importantes. Parabéns caros colegas professores. Viva aos professores que mesmo dentro de uma pandemia continua fazendo o quefazer docente com muito amor e muito carinho. Vocês são a única esperança de transformação de nosso mundo que ainda está em processo, ainda inacabado, espaço para vivenciarmos a superação das contradições implicadas no processo histórico que vem se fazendo a humanidade.

Já dizia o sábio escrito Guimaraes Rosas em Grandes Sertão: Veredas.

Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.

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SCALA EM MOVIMENTO, ENALTECENDO A 
FIGURA DO PROFESSOR EM TODOS OS 
MOMENTOS !!

7 comentários:

  1. Parabéns Prof.André!! Sábias palavras!! Feliz Dia dos Professores a todos!!

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  2. Importante reflexão do Professor André!!
    Que sirvam para que todos nós e os professores ingressantes na carreira docente não deixemos de nos indignar com as mazelas que estão instaladas em todos os cantos do nosso Brasil.

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  3. Muito bom! Espero ver o dia em que a classe se una a faça valer pelo que lutamos todos os dias: uma sociedade com mais dignidade.

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  4. Para viver é preciso coragem.
    Já dizia, o Guimarães Rosa.
    Lutar por uma educação holística, transformadora e amorosa, também necessitam de coragem!
    Parabéns pelo texto, que sei, vindo de você, está encharcado de autenticidade!
    Te admiro, parabéns meu caro amigo!

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  5. Eu sempre penso no professor como um lápis de colorir em uma página em branco. Porq é assim q chegamos pela primeira vez na escola.
    Uma pagina em Branco querendo ser preenchida.
    E ao longo do nosso caminho escolar vamos ganhando mais vida e cores composto por muito conhecimento doado de bom grado pelos inumeros professores que passam por nossas vidas.
    Nicolas B dos santos 3B

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