Novembro de 2021: algumas reflexões

                                                                                                                 Domingos Sávio de Campos Rosa

   Professor Titular de Cargo Efetivo da disciplina de História na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Licenciado em História pela Universidade de Taubaté-SP, Especialista em Arquivística pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, Mestre em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

       Neste mês de novembro de 2021 há muito que refletirmos. Estamos completando vinte meses de vivência em uma pandemia avassaladora. Agora, depois de quase dois anos de tragédia e catástrofe sanitária, finalmente os números começam a indicar que o processo pandêmico entrou em refluxo no Brasil. Entretanto, o avanço de nova onda de casos no continente europeu impõe um urgente alerta e exige que prossigamos com toda a cautela necessária.

     Os atuais patamares do processo de vacinação nos estados brasileiros são significativos, mas, provavelmente, ainda não são suficientes para livrar o Brasil   do risco de mais uma onda de contaminações. Dessa forma cabe a todos, governantes (especialmente à estes) e população, severos cuidados com as medidas de flexibilização e retomada de uma nova normalidade.  Mesmo assim, com todas as ressalvas, a melhora da situação da pandemia alegra e fortalece a esperança em todos nós.

    Não há, entretanto, como negar que o país permanece mergulhado em uma crise devastadora que afeta todas as esferas da vida social brasileira. Todas as áreas fundamentais - política, economia, questões ambientais, educação, defesa dos direitos das minorias, segurança, avanço e consolidação de valores progressistas e democráticos - em todas essas instâncias, a sociedade brasileira vem enfrentando, desde 2019, desde a posse do atual presidente e de seu (des)governo, perdas e retrocessos terríveis.

    É fato que muitos dos problemas já existiam antes de 2019. Todavia, é indiscutível que todos esses problemas foram extremamente agravados por uma gestão presidencial (é bem mais correto escrever que se trata de uma não-gestão) decidida a destruir todos os avanços conquistados no Brasil desde o fim da ditadura militar em 1985 e a promulgação da atual constituição em 1988.

      Em tal cenário, mais do que nunca, cabe a nós, educadores, envidarmos todos os esforços possíveis na defesa decidida da construção de conhecimento crítico e científico, ferramenta fundamental para a ampliação e fortalecimento de processos de reflexão que contribuam efetivamente para o enfrentamento do cenário de barbárie em que vivemos.

     Assim, há muito que refletir. Neste mês de novembro, diversas questões se colocam para estudo e análise. Todas elas intimamente relacionadas com as profundas desigualdades da vida brasileira. Temos, assim, forçosamente, que escolher algumas dessas para propor uma discussão. Ademais, os problemas, sua discussão e enfrentamento não se limitam e esgotam nas datas do calendário. Estas são propostas como um convite à reflexão e um instrumento de luta.

    Tendo em vista todas essas preocupações, o blog Scala em Movimento, buscando contribuir para esses necessários e inadiáveis esforços, dará início à postagem de um conjunto de textos sobre as problemáticas da vida brasileira. Nosso objetivo é o de contribuir, ainda que muito modestamente, para a ampliação das reflexões e debates sobre os complexos e assustadores problemas que atingem os brasileiros.

    Desejamos também convidar a todos, professores, alunos e pais, todos os que participam da comunidade escolar Scalamandré, para compartilhar desse processo de discussão com textos e comentários, que são muito bem-vindos. Refletir sempre é necessário e urgente. Mais ainda em um momento como este, no qual, em nosso país e no mundo, a intolerância, o ódio e o consequente obscurantismo empobrecem e dificultam   os processos de elaboração de um pensamento crítico e transformador.

   Damos início, portanto, à postagem desses textos a partir de hoje, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Esta data relembra a luta heroica de milhares de quilombolas contra a escravidão e a coragem, determinação e lucidez de Zumbi dos Palmares na defesa de um verdadeiro estado negro e antiescravagista, algo de extrema importância na história brasileira e um símbolo muito poderoso na luta contra a opressão que historicamente sempre pesou sobre negros, indígenas, brancos livres pobres e todas as minorias no Brasil. Coloca, assim, a urgência da crítica e do combate ao racismo estrutural, um dos componentes mais perversos e cruéis da formação histórica brasileira.

   Nesse sentido, o Scala em Movimento abre sua contribuição à denúncia, crítica e enfrentamento do racismo, apresentando um artigo que discute os esquecimentos históricos resultantes do racismo na literatura brasileira. O texto da autoria de Mariana W. S. C. Rosa, bacharel em Letras/Português-Inglês pela Universidade de São Paulo, analisa a importância do romance Úrsula, obra de Maria Firmina dos Reis (1822-1917), importante escritora negra que desenvolveu intensa e marcante atividade intelectual de luta contra a escravidão e o racismo em São Luís do Maranhão, na segunda metade do século XIX.

   Nos próximos dias, postaremos mais textos tanto sobre as questões relativas à consciência negra e as lutas que ela impõe, bem como também sobre os desafios vividos pela república brasileira que no último dia 15 deste mês de novembro comemorou 132 anos de uma rica existência, mas, também repleta de contradições. Boa leitura!