Fonte da imagem: https://www.bbc.com/portuguese/geral-52160230
"UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A PANDEMIA"
Maria Zilda Cesarotto
Estamos vivendo
nesses últimos meses uma situação de pânico desencadeada pela epidemia do
Corona Vírus. Diante das incertezas quanto à doença, a angústia pelo crescente
número de mortes, a preocupação com as inúmeras medidas que temos que tomar
para tentar evitar o contágio, o pânico aparece entre as pessoas e as reações
são as mais variadas, uma delas é a negação do problema.
Algumas pessoas
sentem tanto medo que precisam negar o que está acontecendo, acreditam que vai
passar e não tomam os cuidados recomendados pelos especialistas em saúde,
frequentam aglomerações, manifestações públicas, etc. Acreditam estar
protegidas, sendo uma forma de negação.
Existem também
os desesperados, que somam o medo de fora com as angustias interiores que já
sentiam. A pessoa acredita que não pode fazer nada, que a ameaça é tão poderosa
que se sente imobilizada. Angustia e desamparo são sentimentos presentes
confirmando seus complexos infantis. Sentem o isolamento como punição, pois
aprendemos que a prisão é um dos piores castigos.
Entre esses dois
polos existe o tipo misto, que é o confuso ele não entende direito o que está
acontecendo, em um momento acredita que tudo está perdido, depois fica mais otimista.
Ou seja, não sabe exatamente como agir.
Segundo
Christian Dunker, com o isolamento a maior parte das pessoas vai ter seus
sintomas psíquicos piorados porque há um aumento de tensão e conflito social e
isso ocorre com as pessoas mais desprotegidas e vulneráveis. O isolamento vai
tornar mais intenso os sintomas que a pessoa já possui, como a ansiedade. O
paranoico vai ficar mais paranoico, o mesmo acontecendo com o depressivo, e com
o hipocondríaco.
As pessoas estão
vivendo em um estado de expectativa que gera ansiedade, precisamos fazer frente
ao medo que que se instala do social, mas esse medo vai se juntar as angustias
internas.
Esse perigo que
vem de fora gera uma mensagem de que perdemos a nossa liberdade de ir e
vir. Com o isolamento social, iniciamos
paradoxalmente perceber a importância do contato humano. No mundo atual, no
qual a tecnologia permite conseguir inúmeros progressos, passamos mais tempo
nos celulares, mergulhados no nosso universo narcísico individual, do que no
cuidado com o outro, com o afeto e o amor pelo ser humano próximo.
A geração
recente cresceu experimentando a facilidade de estar com o outro, por meio das
redes sociais. Com essas novas relações perde-se prazer do contato para abarcar
um maior número de amigos nas redes sociais. A vida digital é interessante, entretanto
agora isoladas, as pessoas começam a perceber o que foi deixado de lado, o
quanto o outro humano é importante.
É preciso
respirar profundamente e acolher uma nova forma de pensar e ser criativo diante
das limitações cotidianas que estão sendo impostas, podendo transformar as
formas de organização da vida e das relações sociais. O vírus nos mata pela
impossibilidade de respirar, mas também pela nossa dificuldade de enxergar o
outro em sua semelhança e humanidade.
Podemos apontar
alguns fatos positivos nessa pandemia, estávamos vivendo uma aceleração que
muitas vezes se tornava doentia, tivemos que desacelerar. Estávamos em uma
hipertrofia narcísica apoiada pelo mundo digital, pelo modo de produção
neoliberal e pela mídia.
Bruscamente
surgiu um vírus que ninguém havia percebido e que fez o mundo parar. Esse
momento traz uma lição de humildade e solidariedade. Aprendemos ao longo da
história que certas crises só se resolvem, ou melhor, só minimizamos seus efeitos
catastróficos, havendo uma organização coletiva, comunitária, em que prevaleça
um sentido de empatia e solidariedade.
Neste momento,
se faz necessário uma repactuação das relações cotidianas, tais como, as
negociações trabalhistas, comerciais, educacionais e sociais, para que passamos
recriar as formas de relacionamento social. É um momento imprevisível, marcado
por incertezas, e nos cabe aprender a viver com o incerto e com o novo, desenvolvendo
a empatia, consciência social, ambiental e a solidariedade, contribuindo dessa
forma para um estágio melhor do que chamamos de humanidade.
Maria Zilda Cesarotto, formada em Pedagogia, Ciências Sociais e História, com pós-graduação em Gestão Escolar e Formação em Psicanálise. Atuou durante cinquenta anos na Educação Básica da Rede Estadual de Ensino de São Paulo, ocupando os cargos nas áreas de docência, coordenação pedagógica, direção de escola, supervisão de ensino, dirigente regional de ensino e professora de graduação junto aos cursos da área de licenciatura presencial do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - CEUNSP. Em sua carreira profissional acumulou grande experiência na gestão de pessoas e processos educacionais, estando a frente das diretorias de ensino da região de Itu e São Roque, por mais de 20 anos. Atualmente atua como psicanalista/psicoterapeuta no Espaço Acolher em Itu.
SCALA EM MOVIMENTO, CONHECIMENTO EM TODO O TEMPO!!
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E.E.PEI.Maria Angerami Scalamandré - Rua Quatro, s/nº, Jardim Nova Ibiúna /CEP 18150-000-Ibiúna-SP. Fones:DIRETORIA:(15) 3412-5972 /SECRETARIA:(15)3412-5971 / CELULAR -VIVO (15)99641-1108 / e-mail: e016044a@educacao.sp.gov.br / CNPJ 48997498000135
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domingo, 31 de maio de 2020
Artigo:"UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A PANDEMIA" - Maria Zilda Cesarotto
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Grandiosos conhecimentos nesse artigo!! Muito obrigado pela enorme contribuição para o nosso blog, Profª Maria Zilda!! Forte abraço!!
ResponderExcluirO tempo passa e temos contribuições importantes para refletirmos sobre o tema do momento.
ResponderExcluirA cada dia percebemos o quanto precisamos nos aprofundar.
A Professora Maria Zilda nós trouxe um outro olhar que permite a reflexão diantes das muitas sensações que essa pandemia tem manifestado em cada um.
Agradeço imensamente por ter aceitado o convite contribuído com nosso blog.
Parabéns!!!
Excelente artigo, creio vem ao encontro de muitas situações que estamos vivenciando, me vi personificado nele, parece que cada parágrafo conversava comigo.
ResponderExcluirEssa professora tem um conhecimento ímpar, parabéns.
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirPerfeito, parabéns pelo texto.
ResponderExcluirTemos sim que reaprender viver.
Um artigo claro que mostra nossas responsabilidades e cuidados conosco, com o outro, neste tempo de pandemia. Parabéns à psicanalista pelo texto. Abraço
ResponderExcluirO pânico do medo.
ResponderExcluirO assunto "pandemia" simplesmente dominou os debates e noticiários mundo afora. E nesse momento o importante é mantermos a fé e a calma, não absolvendo, tudo de uma forma intensa, principalmente nos que estamos frente aos adolescentes e seus familiares. O texto foi esclarecedor traduzindo na íntegra o presente momento. Parabéns.