FONTE: https://oidiario.com.br/balanco-coronavirus-regiao/
Coronavírus escancarou a
conta do nosso egoísmo
|
SERGIO PEREZ / Reuters
por ProfªMarilena Silvano
No
último dia 22, no meio da pandemia de coronavírus, uma senhora de 90 anos
faleceu na Bélgica após ter recusado o ventilador mecânico para ceder o
equipamento em favor de alguém mais jovem. “Guarde para alguém mais jovem. Eu
vivi uma boa vida” foi o que ela disse dias antes de falecer.
Não
é hidroxicloroquina ou cloroquina que irão nos salvar dessa vez.
O
inimigo dessa vez é invisível e implacável: fez os líderes das grandes nações
parecem crianças assustadas, fez o Papa sozinho e cabisbaixo perdoar os nossos
pecados, fez judeus e muçulmanos rezarem juntos.
As
nossas tradicionais armaduras falharam. De nada adiantou o poderio militar
nuclear dos mísseis ou os inalcançáveis imóveis de luxo do Central Park: o
gramado agora está cheio de tendas de hospital de campanha. Nossos planos de
saúde caros não foram suficientes para tirar o receio da falta de equipamentos
de nossas cabeças e tampouco nossos celulares e televisões sofisticados foram
capazes de entreter no meio dessa solidão sentida e vivenciada por todos.
Sentimo-nos
amedrontados, perdidos, sozinhos. E aí, diante de algo que não sabemos como nem
quando vai acabar, fomos obrigados a ajoelhar. E para ajoelhar, todos nós fomos
obrigados a aprender que é necessário sair dos nossos tronos, das nossas
bolhas, das nossas coberturas, das nossas realidades e aproximar a cabeça do
chão, frágeis e despidos.
Quando
a gente se abaixou, acabamos esbarrando as cabeças uns nos outros e o milagre
começou a acontecer. Começamos a perceber que a doença que mata a minha mãe
também mata a mãe de quem mora do outro lado do mundo. Vimos que o mesmo
problema que quebra o meu negócio desemprega o meu funcionário mais simples.
Passamos a enxergar a importância de profissões que muitas vezes considerávamos
pouco importantes ou dispensáveis. Constatamos que o medicamento que me falta
também faltará para quem mora na favela. Sentimos que a mesma solidão que se
abate sobre mim angustia o outro que tem nome, cor, origem e religião
diferentes dos meus.
Despedaçados
perante nossos medos mais ocultos, enfim fomos obrigados a admitir aquilo que
já sabíamos mas não queríamos aceitar: somos todos iguais. No final das contas,
após todo o dinheiro, todo o status, todos os privilégios, encolhemo-nos de
medo das mesmas coisas e sentimos uma compaixão comum diante dos números que
crescem, seja na Itália, nos Estados Unidos ou na nossa cidade.
Se
antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora,
para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo. Para que eu seja
protegido, preciso proteger os outros. A conta do nosso egoísmo chegou, cara e
sem nenhum desconto.
Mas com o milagre,
percebemos que essa conta pode ser paga de outra forma. Dito e repetido, não
são hidroxicloroquina ou cloroquina que encerrarão esses tempos obscuros. Já
descobrimos a cura e ela se chama amor. Pode parecer piegas, não é mesmo? Mas a
verdade é que chegamos no ponto decisivo, na curva da inflexão na qual ou nós
mudamos a maneira de convivermos enquanto sociedade ou estaremos sempre à mercê
de nosso próprio egoísmo disfarçado de vírus, guerras, crises econômicas ou
governantes inescrupulosos.
Para
muito além do desespero e caos que estafam a nossa mente, o Brasil que se
apresenta agora é o Brasil dos profissionais de saúde exaustos que se revezam
incansavelmente para salvar pessoas que nem conhecem. É o Brasil de empresários
assumindo prejuízos para não demitir seus funcionários. É o Brasil de pessoas
parando suas atividades para garantir o bem-estar de outros. É o Brasil dos
entregadores, garis, caminhoneiros e caixas de supermercados. É o Brasil de
pessoas que doam o pouco que tem para que quem tem menos ainda possa ter algo.
É o país do amor ao próximo e de gente que se preocupa com gente, de forma real
e para além de qualquer discurso vazio e hipócrita.
Esse
país de gente solidária, trabalhadora e resiliente pode afinal ser o gigante
que acordou, ainda que tantos discursos e personagens irresponsáveis tentem
macular nosso foco. A reflexão sobre qual lado da história iremos (e optaremos
por) estar nunca foi tão necessária.
Tempos difíceis servem
para algumas coisas, entre elas grandes aprendizados e reflexões incômodas.
Quando aquela senhora heroína na Bélgica cedeu seu equipamento, a afirmação
dela pode e deve ser repetida aqui: “guarde para alguém mais jovem”. E dessa vez,
não é sobre o equipamento. É sobre o legado e a história que estamos
construindo nesse momento decisivo. É a hora de abaixarmos as nossas bandeiras
ideológicas e substituí-las por empatia, bom-senso e álcool em gel. Fiquemos em
casa e ajudemos uns aos outros, irrestritamente. Construamos, unidos, nesse
momento difícil, uma nação melhor e mais solidária, para que possamos deixar,
após a crise, um país melhor “guardado para os mais jovens”. É essa a real cura
para o temido vírus.
_____________________________________________________________________
Palavras de ProfªMarilena Silvano, colaboradora do nosso
Blog Scala em Movimento:
Os acontecimentos atuais não me fizeram desistir daquela decisão; só me fazem
avaliar mais profundamente qual é o meu verdadeiro papel neste cenário tão
diferente de tudo que vivi nas sete
décadas de minha vida.
O que posso concluir, de acordo com o texto
indicado, que o amor e os laços de solidariedade estão unindo a humanidade tão
perdida.
Também, o quanto o
Planeta Terra está se mostrando agradecido sem a interferência humana , que até
então só causou destruição. As aves voltaram a voar livres e felizes, as águas
se mostram límpidas e cristalinas, o ar limpo de poluentes, os céus das grandes
metrópoles se cobrem de estrelas e, até os ruídos do Universo são ouvidos
daqui.
Outras informações da nossa querida colaboradora e escritora:
Marilene Silvano, 70 anos, mãe e avó, professora aposentada da Rede Estadual de
Ensino e Vice Diretora aposentada da Prefeitura Municipal de Mairinque, onde se
aposentou em 2011.
Atualmente em busca de
muita energia positiva para o nosso Planeta.
SCALA EM MOVIMENTO, informações de qualidade e conhecimento a todo o momento!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns minha querida e sempre Diretora Marilena Silvano!! Tanto a crônica quanto as tuas palavras nos fazem refletir sobre o que realmente somos nesse mundo: seres humanos!! Que Deus continue a abençoar as nossas vidas e em nome da E.E.Maria Angerami Scalamandré- Ibiúna-SP, agradeço por atender ao meu convite para participar do nosso blog, que de ora avante, estará à sua disposição para divulgar as tuas maravilhosas ideias e pensamentos!! Forte abraço!!
ResponderExcluirLena, há quanto tempo não nos falamos. Saudades!!!
ResponderExcluirAgradeço imensamente a sua contribuição para esse importante canal de informação e formação.
Estou muito feliz com sua presença por aqui.
Fique a vontade para enviar suas reflexões.
Grande abraço!!!