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sexta-feira, 27 de março de 2020

MOMENTO CULTURAL: Artigo- " Um olhar sociológico do cenário atual"- Profª Elizângela Alves dos Santos


Um documento precioso: como será o mundo pós-coronavirus - GGN

Um Olhar Sociológico do cenário atual

Profª Elizângela Alves dos Santos

Olhar Sociológico
 Refletindo sobre o momento em que estamos vivendo, lembrei-me de um texto que utilizei como forma de introdução aos conteúdos de Sociologia na primeira semana de aulas nos 3º anos do Ensino Médio; o extraí do Livro “Um toque de Clássicos: Marx, Durkhein e Weber”, de Tânia Quintaneiro, Maria Ligia de Oliveira Barbosa e Márcia Gardênia Monteiro de Oliveira.
Muitos dos trechos que explicam o momento histórico em que nasce o “pensamento crítico” sobre a sociedade têm semelhanças notórias com a realidade em que estamos vivendo. Em seu texto as autoras deixam claro o caos social em que parte da Europa estava imerso entre os séculos XVIII e XIX.
“As grandes transformações sociais não   costumam acontecer de maneira súbita, sendo quase imperceptíveis para aqueles que nelas estão imersos. Mesmo os sistemas filosóficos e científicos inovadores entrelaçam-se a tal ponto com os que os antecedem que é difícil pensar em termos de rupturas radicais. Ainda assim, começara a despontar desde a Renascença a consciência de que uma linha distintiva separava os novos tempos do que veio a se chamar Medievo. Mudanças na organização política e jurídica, nos modos de produzir e de comerciar exerciam um mútuo efeito multiplicador e geravam conflitos ideológicos e políticos de monta. O avanço do capitalismo como modo de produção dominante na Europa ocidental foi desestruturando, com velocidade e profundidade variadas, tanto os fundamentos da vida material como as crenças e os princípios morais, religiosos, jurídicos e filosóficos em que se sustentava o antigo sistema. Profundos câmbios na estrutura de classes e na ossatura do Estado foram ocorrendo em muitas das sociedades européias. A dinâmica do desenvolvimento capitalista e as novas forças sociais por ele engendradas provocaram o enfraquecimento ou desaparecimento, mais ou menos rápido, dos estamentos tradicionais - aristocracia e campesinato - e das instituições feudais: servidão, propriedade comunal, organizações corporativas artesanais e comerciais. A partir da segunda metade do século 18, com a primeira revolução industrial e o nascimento do proletariado, cresceram as pressões por uma maior participação política, e a urbanização intensificou-se, recriando uma paisagem social muito distinta da que antes existia. Os céus dos grandes centros industriais começaram a cobrir-se da fumaça despejada pelas chaminés de fábricas que se multiplicavam em ritmo acelerado, aproveitando a considerável oferta de braços proporcionada pela gradual deterioração da propriedade comunal. De fato, esta antiga instituição européia vinha sendo aos poucos usurpada pelos grandes proprietários e arrendatários de terras, com base nas leis e nas armas. A capitalização e modernização da agricultura provocaram o êxodo de milhares de famílias que, expulsas de seu habitat ancestral, vagavam à procura de trabalho. As cidades, receptoras desses fluxos contínuos, foram crescendo acelerada e desordenadamente. Cenário de feiras periódicas, elas recebiam pequenos produtores locais e mercadores estrangeiros e, sob o manto de sua intensa atividade, albergavam uma população de mendigos, desocupados, ladrões, saltimbancos, piratas de rios e de cais, traficantes e aventureiros em busca de todo tipo de oportunidades. A cidade acenava a todos com a possibilidade de maior liberdade, proteção, ocupação e melhores ganhos, embora para muitos tais promessas não chegassem a cumprir-se. No carregado ambiente urbano, a pobreza, o alcoolismo, os nascimentos ilegítimos, a violência e a promiscuidade tornavam-se notáveis e atingiam os membros mais frágeis do novo sistema, particularmente os que ficavam fora da cobertura das leis e instituições sociais. A aglomeração, conjugada a outros fatores como as condições sanitárias tinham outras conseqüências deletérias sobre a população urbana, especialmente sobre os mais miseráveis. A fome, a falta de esgotos e de água corrente nas casas, o lixo acumulado e as precárias regras de higiene contribuíam para a proliferação de doenças e a intensificação de epidemias que elevavam as taxas de mortalidade da população em geral, e dos pobres, das crianças e parturientes em particular. A gente decente banhava-se somente por ordem médica (o banho diário era coisa de nobres e libertinos) e “muitos não tinham idéia se o sabão era ou não comestível”.  Foi somente no limiar do século 18, com as revoluções industrial e agrícola na Inglaterra, que uma relativa abundância de alimentos juntamente com outros fatores ligados a melhorias na higiene promoveram uma sensível redução das taxas de mortalidade e um correspondente aumento da população. As quedas abruptas, uma constante na pauta demográfica dos períodos anteriores, tornaram-se menos freqüentes. Entre 1800-1850, o crescimento populacional da Europa foi de 43%. Alguns países ultrapassaram os 50%. Na França, no início do século 19, a expectativa média de vida subiu há 38 anos, e 7% da população já chegavam aos 60 anos, embora 44% não passassem dos 20.”

A Sociologia que nasce para explicar esses fenômenos, como as outras disciplinas da área de Humanas, propõe que conheçamos os contextos históricos, aprendamos com eles, para não reproduzirmos; mas infelizmente vemos que não é o que acontece.
Estamos num caos social, sanitário, epidemiológico, tentando lutar contra um inimigo invisível e fatal, e muitos agem como se essa preocupação fosse histerismo de “grupos anti-governos”! É absurdo o ceticismo diante de fatos. Mas as pessoas são capazes de julgar os outros como histéricos e mesmo assim dizer “isso acontece com quem não tem fé, comigo não!”, em contra partida temos os realmente histéricos que invadem os supermercados e esvaziam as prateleiras e garantirem que serão salvos.
Assim como no século XIX houve uma mudança gigantesca na maneira de relacionarmos uns com os outros, esse momento do século XXI está nos propondo novamente “a mudança”; “pensar em cada um por si e Deus por nós todos” já não cabe mais. Mas como agir dependendo da consciência do “outro” para garantir a sobrevivência?
Os grandes pensadores da Sociologia foram a seu tempo chamados de loucos, utópicos, céticos, histéricos; nos deixaram obras fantásticas que só foram compreendidas quase um século depois de escritas , (se é que foram compreendidas) mas é inegável que tais obras nos possibilitam refletir, contextualizar, relacionar, pensar antes de agir, pensar...; será que realmente pensamos? Acredito que só pensamos, não refletimos.
 Somos fruto de uma sociedade débil. Entendam “débil” no sentido de debilidade, de falta de coisas necessárias para garantirmos nossa sobrevivência. E nossa maior debilidade é a Humanidade.
O olhar sociológico é o foco do trabalho do professor de sociologia dentro da sala de aula, propomos aos nossos alunos “Desnaturalizar” os fatos ocorridos no cotidiano para assim problematizar e entender tais fatos.  Como entender o que está ocorrendo no mundo hoje? Um vírus letal em que o “remédio”, paliativo, é o isolamento social, e por mais insano que seja, é nos isolando que estamos mais juntos. Melhor dizendo, nunca o mundo esteve mais unido num único propósito como agora.
As preocupações com a economia são reais e talvez o fator econômico novamente separe os seres humanos, mas esse é o momento de garantir a vida para depois pensarmos em garantir a sobrevivência.
Talvez Karl Marx estivesse certo quando propôs a união dos operários em todo mundo, “as condições econômicas e a luta de classes são agentes transformadores da sociedade”. A solidariedade e o respeito á vida também é um agente transformador de homens, pena que nem todos compreendem dessa forma. Assim como não compreenderam o pensamento de Marx a sua época, e a sua luta
 “Weber acreditava que a função do sociólogo seria compreender o sentido das chamadas ações sociais e explicar suas lógicas causais. A sociologia weberiana é essencialmente hermenêutica e busca compreender a rede de significados que o homem teceu e se “enroscou”. Ela afirma que a sociedade seria o resultado das formas de relação entre seus sujeitos constituintes”. O que diria Weber hoje! ? , “fiquem em suas casas e evitem causar mais “enroscos” talvez.
E finalmente Emile Durkhein, pensador que acredito ter descrito melhor a sociedade que vemos hoje:
“Segundo ele, o homem seria um animal bestial que só se tornou humano na medida em que se tornou sociável. Assim, podemos observar o procedimento de aprendizagem, o qual Durkheim chamou de "Socialização", como fator basilar na construção de uma “consciência coletiva”, estabelecida durante a nossa socialização.
 Não obstante, um de seus principais argumentos foi o da determinança dos "fatos sociais", os quais nos ensinam como devemos ser sentir e fazer, pois o que as pessoas sentem, pensam ou fazem, não dependem totalmente de suas vontades individuais, posto que seja uma conduta instituída pela sociedade.
 Aqui, três propriedades são cruciais: generalidadeexterioridade e coercitividade; estas são as leis que conduzem o comportamento social, ou seja, o que governa os fatos sociais. Sua teoria também ficara conhecida como Funcionalista, uma vez que faz uma analogia com as funções do organismo, na medida em que a existência e a qualidade de diferentes partes da sociedade, decompostas pelos papéis que exercem para manter o meio social balanceado.
Ainda neste tema, seus conceitos básicos serão "instituição social" e "anomia". Assim, instituição social seria o conjunto de regras e artifícios uniformizados socialmente para conservar a organização do grupo e, por isso, são reacionárias por essência, (exemplo: família, escola, governo, polícia) e atuam perpetrando a oposição contra as mudanças, pela conservação da ordem.
Já a anomia seria uma situação em que a sociedade ficaria sem regras claras, sem valores e sem limites, e quando as mesmas podem ver-se incapazes de integrar determinados indivíduos estão dela afastados devido ao abrandamento da consciência coletiva. “Este conceito foi utilizado, inclusive, para classificar os tipos de suicídio: suicídio altruísta, suicídio egoísta e suicídio anômico”.
Isso posto devo concluir minha reflexão dizendo que a sociedade Funcionalista descrita por Durkhein tem um de seus órgãos em mau funcionamento. E ouso dizer que no caso do Brasil o cérebro está deteriorado, o governo, nunca esteve em mãos tão insensatas e débeis de saber. Não aprendeu a socialização, portanto continua sendo um animal bestial.
Que diferente dos séculos XVIII, XIX e XX, possamos no século XXI deixar registrado na história da humanidade que aprendemos que REFLETIMOS e solucionamos nossos problemas de forma Ética, Solidária, Empática e Justa para todos. Que sim aprendemos a SER humanos. 

FRASES CONHECIDAS DE SOCIOLOGOS - Nenhum sociólogo


SCALA EM MOVIMENTO compreendendo a Sociedade com o  passar dos tempos!!

11 comentários:

  1. PARABÉNS ProfªElizângela!! Quanta sabedoria nessas ideias e análise social!!

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    1. Muito obrigado pela sua intervenção no texto tenho certeza que ficou melhor com a sua ajuda.

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    2. Pequenas intervenções diante da magnitude da palavras!!

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  2. Bravo, bravíssimo!!! Orgulho dessa equipe. Parabéns Elisângela!!!

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  3. Uau!!! Parabéns pelo artigo Profundo, analítico, crítico, isso faz parte de seu perfil. Bjs

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  4. Excelente Elizangela.
    O pior é que as vezes aqueles que usam a "FÉ" como escudo pra tudo, na verdade desconhem seu real significado, cujo diz respeito às coisas que se espera mas não se pode ver(Rm 11.1), bem diferente do que estamos vivendo, vendo e sabendo o que esperar.
    Que o Senhor nos proteja!

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