Um Olhar
Sociológico do cenário atual
Profª Elizângela Alves dos Santos
Olhar
Sociológico
Refletindo sobre o momento em que estamos
vivendo, lembrei-me de um texto que utilizei como forma de introdução aos
conteúdos de Sociologia na primeira semana de aulas nos 3º anos do Ensino
Médio; o extraí do Livro “Um toque de Clássicos: Marx, Durkhein e Weber”, de
Tânia Quintaneiro, Maria Ligia de Oliveira Barbosa e Márcia Gardênia Monteiro
de Oliveira.
Muitos
dos trechos que explicam o momento histórico em que nasce o “pensamento
crítico” sobre a sociedade têm semelhanças notórias com a realidade em que
estamos vivendo. Em seu texto as autoras deixam claro o caos social em que
parte da Europa estava imerso entre os séculos XVIII e XIX.
“As grandes transformações
sociais não costumam acontecer de maneira súbita, sendo
quase imperceptíveis para aqueles que nelas estão imersos. Mesmo os sistemas
filosóficos e científicos inovadores entrelaçam-se a tal ponto com os que os
antecedem que é difícil pensar em termos de rupturas radicais. Ainda assim,
começara a despontar desde a Renascença a consciência de que uma linha
distintiva separava os novos tempos do que veio a se chamar Medievo. Mudanças
na organização política e jurídica, nos modos de produzir e de comerciar
exerciam um mútuo efeito multiplicador e geravam conflitos ideológicos e
políticos de monta. O avanço do capitalismo como modo de produção dominante na
Europa ocidental foi desestruturando, com velocidade e profundidade variadas,
tanto os fundamentos da vida material como as crenças e os princípios morais,
religiosos, jurídicos e filosóficos em que se sustentava o antigo sistema.
Profundos câmbios na estrutura de classes e na ossatura do Estado foram
ocorrendo em muitas das sociedades européias. A dinâmica do desenvolvimento
capitalista e as novas forças sociais por ele engendradas provocaram o
enfraquecimento ou desaparecimento, mais ou menos rápido, dos estamentos
tradicionais - aristocracia e campesinato - e das instituições feudais:
servidão, propriedade comunal, organizações corporativas artesanais e
comerciais. A partir da segunda metade do século 18, com a primeira revolução
industrial e o nascimento do proletariado, cresceram as pressões por uma maior
participação política, e a urbanização intensificou-se, recriando uma paisagem
social muito distinta da que antes existia. Os céus dos grandes centros
industriais começaram a cobrir-se da fumaça despejada pelas chaminés de fábricas
que se multiplicavam em ritmo acelerado, aproveitando a considerável oferta de
braços proporcionada pela gradual deterioração da propriedade comunal. De fato,
esta antiga instituição européia vinha sendo aos poucos usurpada pelos grandes
proprietários e arrendatários de terras, com base nas leis e nas armas. A
capitalização e modernização da agricultura provocaram o êxodo de milhares de
famílias que, expulsas de seu habitat ancestral, vagavam à procura de trabalho.
As cidades, receptoras desses fluxos contínuos, foram crescendo acelerada e
desordenadamente. Cenário de feiras periódicas, elas recebiam pequenos
produtores locais e mercadores estrangeiros e, sob o manto de sua intensa
atividade, albergavam uma população de mendigos, desocupados, ladrões,
saltimbancos, piratas de rios e de cais, traficantes e aventureiros em busca de
todo tipo de oportunidades. A cidade acenava a todos com a possibilidade de
maior liberdade, proteção, ocupação e melhores ganhos, embora para muitos tais
promessas não chegassem a cumprir-se. No carregado ambiente urbano, a pobreza,
o alcoolismo, os nascimentos ilegítimos, a violência e a promiscuidade
tornavam-se notáveis e atingiam os membros mais frágeis do novo sistema,
particularmente os que ficavam fora da cobertura das leis e instituições
sociais. A aglomeração, conjugada a outros fatores como as condições sanitárias
tinham outras conseqüências deletérias sobre a população urbana, especialmente
sobre os mais miseráveis. A fome, a falta de esgotos e de água corrente nas
casas, o lixo acumulado e as precárias regras de higiene contribuíam para a
proliferação de doenças e a intensificação de epidemias que elevavam as taxas
de mortalidade da população em geral, e dos pobres, das crianças e parturientes
em particular. A gente decente banhava-se somente por ordem médica (o banho
diário era coisa de nobres e libertinos) e “muitos não tinham idéia se o sabão
era ou não comestível”. Foi somente no
limiar do século 18, com as revoluções industrial e agrícola na Inglaterra, que
uma relativa abundância de alimentos juntamente com outros fatores ligados a
melhorias na higiene promoveram uma sensível redução das taxas de mortalidade e
um correspondente aumento da população. As quedas abruptas, uma constante na
pauta demográfica dos períodos anteriores, tornaram-se menos freqüentes. Entre
1800-1850, o crescimento populacional da Europa foi de 43%. Alguns países
ultrapassaram os 50%. Na França, no início do século 19, a expectativa média de
vida subiu há 38 anos, e 7% da população já chegavam aos 60 anos, embora 44%
não passassem dos 20.”
Fonte: https://perio.unlp.edu.ar/catedras/system/files/durkheim_webber_marx_-_um_toque_de_classicos_0.pdf.
A
Sociologia que nasce para explicar esses fenômenos, como as outras disciplinas
da área de Humanas, propõe que conheçamos os contextos históricos, aprendamos
com eles, para não reproduzirmos; mas infelizmente vemos que não é o que
acontece.
Estamos
num caos social, sanitário, epidemiológico, tentando lutar contra um inimigo
invisível e fatal, e muitos agem como se essa preocupação fosse histerismo de
“grupos anti-governos”! É absurdo o ceticismo diante de fatos. Mas as pessoas
são capazes de julgar os outros como histéricos e mesmo assim dizer “isso
acontece com quem não tem fé, comigo não!”, em contra partida temos os
realmente histéricos que invadem os supermercados e esvaziam as prateleiras e
garantirem que serão salvos.
Assim
como no século XIX houve uma mudança gigantesca na maneira de relacionarmos uns
com os outros, esse momento do século XXI está nos propondo novamente “a
mudança”; “pensar em cada um por si e Deus por nós todos” já não cabe mais. Mas
como agir dependendo da consciência do “outro” para garantir a sobrevivência?
Os
grandes pensadores da Sociologia foram a seu tempo chamados de loucos,
utópicos, céticos, histéricos; nos deixaram obras fantásticas que só foram
compreendidas quase um século depois de escritas , (se é que foram
compreendidas) mas é inegável que tais obras nos possibilitam refletir,
contextualizar, relacionar, pensar antes de agir, pensar...; será que realmente
pensamos? Acredito que só pensamos, não refletimos.
Somos fruto de uma sociedade débil. Entendam “débil”
no sentido de debilidade, de falta de coisas necessárias para garantirmos nossa
sobrevivência. E nossa maior debilidade é a Humanidade.
O
olhar sociológico é o foco do trabalho do professor de sociologia dentro da
sala de aula, propomos aos nossos alunos “Desnaturalizar” os fatos ocorridos no
cotidiano para assim problematizar e entender tais fatos. Como entender o que está ocorrendo no mundo
hoje? Um vírus letal em que o “remédio”, paliativo, é o isolamento social, e
por mais insano que seja, é nos isolando que estamos mais juntos. Melhor
dizendo, nunca o mundo esteve mais unido num único propósito como agora.
As
preocupações com a economia são reais e talvez o fator econômico novamente
separe os seres humanos, mas esse é o momento de garantir a vida para depois
pensarmos em garantir a sobrevivência.
Talvez
Karl Marx estivesse certo quando propôs a união dos operários em todo mundo, “as condições econômicas e a luta de classes são agentes
transformadores da sociedade”. A solidariedade e o respeito á vida também é um
agente transformador de homens, pena que nem todos compreendem dessa forma.
Assim como não compreenderam o pensamento de Marx a sua época, e a sua luta
“Weber
acreditava que a função do sociólogo seria compreender o sentido das chamadas
ações sociais e explicar suas lógicas causais. A sociologia weberiana é
essencialmente hermenêutica e busca compreender a rede de significados que o
homem teceu e se “enroscou”. Ela afirma que a sociedade seria o resultado
das formas de relação entre seus sujeitos constituintes”. O que diria Weber
hoje! ? , “fiquem em suas casas e evitem causar mais “enroscos” talvez.
E finalmente Emile
Durkhein, pensador que acredito ter descrito melhor a sociedade que vemos hoje:
“Segundo ele, o homem seria um animal bestial que só se tornou humano
na medida em que se tornou sociável. Assim, podemos observar o procedimento de
aprendizagem, o qual Durkheim chamou de "Socialização",
como fator basilar na construção de uma “consciência coletiva”, estabelecida
durante a nossa socialização.
Não obstante, um de seus
principais argumentos foi o da determinança dos "fatos sociais", os quais nos ensinam como
devemos ser sentir e fazer, pois o que as pessoas sentem, pensam ou fazem, não
dependem totalmente de suas vontades individuais, posto que seja uma conduta
instituída pela sociedade.
Aqui, três propriedades são cruciais: generalidade, exterioridade e coercitividade; estas são as leis que conduzem o comportamento social, ou seja, o que governa
os fatos sociais. Sua teoria também ficara conhecida como Funcionalista, uma vez que faz uma analogia com as
funções do organismo, na medida em que a existência e a qualidade de diferentes
partes da sociedade, decompostas pelos papéis que exercem para manter o meio
social balanceado.
Ainda neste tema, seus
conceitos básicos serão "instituição social"
e "anomia". Assim, instituição social seria o conjunto de regras e
artifícios uniformizados socialmente para conservar a organização do grupo e,
por isso, são reacionárias por essência, (exemplo: família, escola, governo,
polícia) e atuam perpetrando a oposição contra as mudanças, pela conservação da
ordem.
Já a anomia seria uma situação em que a sociedade ficaria sem regras
claras, sem valores e sem limites, e quando as mesmas podem ver-se incapazes de
integrar determinados indivíduos estão dela afastados devido ao abrandamento da
consciência coletiva. “Este conceito foi utilizado, inclusive, para classificar
os tipos de suicídio: suicídio altruísta, suicídio egoísta e suicídio anômico”.
Fonte: https://www.todamateria.com.br,
Isso posto devo concluir minha reflexão dizendo que a sociedade
Funcionalista descrita por Durkhein tem um de seus órgãos em mau funcionamento.
E ouso dizer que no caso do Brasil o cérebro está deteriorado, o governo, nunca
esteve em mãos tão insensatas e débeis de saber. Não aprendeu a socialização,
portanto continua sendo um animal bestial.
Que diferente dos séculos
XVIII, XIX e XX, possamos no século XXI deixar registrado na história da
humanidade que aprendemos que REFLETIMOS e solucionamos nossos problemas de
forma Ética, Solidária, Empática e Justa para todos. Que sim aprendemos a SER
humanos.
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SCALA EM MOVIMENTO compreendendo a Sociedade com o passar dos tempos!!
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sexta-feira, 27 de março de 2020
MOMENTO CULTURAL: Artigo- " Um olhar sociológico do cenário atual"- Profª Elizângela Alves dos Santos
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PARABÉNS ProfªElizângela!! Quanta sabedoria nessas ideias e análise social!!
ResponderExcluirMuito obrigado pela sua intervenção no texto tenho certeza que ficou melhor com a sua ajuda.
ExcluirPequenas intervenções diante da magnitude da palavras!!
ExcluirBravo, bravíssimo!!! Orgulho dessa equipe. Parabéns Elisângela!!!
ResponderExcluirSou fruto de suas intervenções. Muito obrigada por tudo.
ExcluirUau!!! Parabéns pelo artigo Profundo, analítico, crítico, isso faz parte de seu perfil. Bjs
ResponderExcluirMuito obrigada! Juntas somos melhor ainda!
ResponderExcluirExcelente Elizangela.
ResponderExcluirO pior é que as vezes aqueles que usam a "FÉ" como escudo pra tudo, na verdade desconhem seu real significado, cujo diz respeito às coisas que se espera mas não se pode ver(Rm 11.1), bem diferente do que estamos vivendo, vendo e sabendo o que esperar.
Que o Senhor nos proteja!
Então continuemos orando! Obrigada!
ExcluirMuito bom.
ResponderExcluirParabéns minha irmã!
Te amo Rosangela!
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